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Tenho uma cárie... E agora?


As cáries dentárias formam-se normalmente em zonas onde as bactérias conseguem aderir e permanecer em contacto com a superfície dentária, seja nas fissuras existentes nos dentes, nas zonas de contacto entre dentes ou junto à margem gengival quando a remoção da placa bateriana não está a ser eficaz.

Todos temos características genéticas que determinam uma maior ou menor resistência à acção ácida da placa bacteriana, sendo que obviamente a higiene oral, a alimentação e a capacidade de defesa da nossa saliva são importantes para favorecer ou não o aparecimento destas lesões.

A primeira etapa na formação duma cárie consiste na dissolução da superfície do dente, normalmente ao nível do esmalte (camada externa do dente). Uma vez ultrapassando essa barreira mais resistente, as bactérias atingem uma segunda camada, chamada de dentina, camada que é mais porosa e portanto menos resistente à acção dos ácidos produzidos pelas bactérias. Forma-se assim uma espécie de túnel no esmalte e consequentemente começa-se a formar uma loca ou "cavidade" na dentina, cavidade que vai aumentando, até deixar de dar suporte ao esmalte e levar à sua fractura... e é aqui que a maior parte das pessoas toma consciência da existência duma cárie: porque o dente se partiu!

Por outro lado, à medida que a cavidade da dentina vai aumentando, o nervo que está no interior do dente, começa normalmente a receber os estímulos ao frio/calor/açúcares que mais facilmente atingem esta zona protegida do dente... E surge a sensibilidade dentária por cárie. Nem todos temos o mesmo plafound de sensibilidade, ou seja, se algumas pessoas sentem a presença duma cárie quase no início da sua formação, muitas não se apercebem de todo da existência do problema até o dente se partir.

Quer seja por sensibilidade, quer seja por fractura ou por diagnóstico por parte do dentista, a partir do momento em que uma cárie é detectada e apresenta sinais de progressão, deverá ser tratada o mais depressa possível, já que estamos a falar duma infecção bacteriana, que facilmente se propaga aos demais dentes existentes na cavidade oral.


E como é que a podemos tratar?

Quando a cárie é reduzida, normalmente é tratada com restaurações fazendo uso de resinas da cor do dente afectado. Quando já tem dimensões consideráveis mas ainda não atinge o nervo, podemos recorrer a restaurações ditas "indirectas" que podem ser em resina ou em cerâmica (inlays, onlays e coroas), cuja resistência e durabilidade é significativamente maior. No entanto, quando já atinge a zona do nervo, o dente deverá ser desvitalizado e, nesse caso, normalmente é aconselhada a colocação dum espigão (que preenche interior do dente e substitui a zona interior e oca do mesmo), espigão esse que depois permitirá melhorar o prognóstico do tratamento realizado, tratamento que poderá passar por uma simples restauração ou uma coroa.

Tudo seria simples se as cáries não evoluissem além da margem da gengiva ou do osso. Quando isso acontece surgem várias hipóteses, cuja escolha clínica dependerá do tamanho da raíz saudável remanescente, da importância estética do dente e do estado de saúde do paciente. Em situações mais simples, poder-se-á realizar uma intervenção cirúrgica simples, chamada de alongamento coronário, e desta forma expôr a margem saudável do dente, conseguindo-se assim fazer uma reabilitação da zona afectada com alguma segurança e sem a hemorragia ou humidade da gengiva que levariam ao fracasso do tratamento a curto/médio prazo. Caso a quantidade de raíz dentária saudável seja reduzida em relação ao tamanho total do dente ou caso se trate dum dente com uma importância estética significativa, o tratamento ideal já não passará pela sua recuperação, mas antes pela sua substituição por um implante dentário. Bem sei que esta solução é a que tentaremos sempre evitar, mas em situações limites, é definitivamente a mais adequada já que investir tempo e dinheiro num dente com pouco suporte tende a conduzir a futuras fracturas desse mesmo dente ou ao desenvolvimento de inflamação do ligamento que une o dente ao osso com consequente mobilidade e provavél perda do dente. Por outro lado, uma cirurgia de alongamento coronário numa zona esteticamente importante irá normalmente conduzir a assimetrias e espaços entre os dentes, ou que limita os resultados estéticos do tratamento. Em doentes medicamente comprometidos, a decisão tem que ser ponderada caso a caso já que a saúde geral obviamente prevalece sobre todos os factores acima descritos.


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